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RELATÓRIO PLANETA VIVO REVELA DECLÍNIO DE 69% DAS POPULAÇÕES DE ANIMAIS SELVAGENS

● Os portugueses precisam atualmente de 2,88 planetas para manter o seu estilo de vida, representando um aumento face ao relatório de 2020 (2,52 planetas)● Portugal contribui para a diminuição mundial das populações de tubarões e raias ● As regiões tropicais enfrentam uma taxa impressionante de diminuição na abundância das populações de vida selvagem ● Populações de espécies de água doce sofreram uma queda em média de 83%● O Índice Planeta Vivo do relatório mostra que não há tempo a perder para garantir uma sociedade positiva para a natureza

A abundância de  vida selvagem teve uma queda média de 69% desde 1970, de acordo com o Relatório Planeta Vivo (RPV) 2022 da WWF, que monitorizou* mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes. O relatório alerta para o estado grave da natureza e aponta para a urgência de implementar ações transformadoras por parte de governos, empresas e cidadãos, de modo a reverter a destruição da biodiversidade. Portugal continua a consumir em excesso, sendo necessários os recursos de 2,88 planetas para fazer face ao consumo dos portugueses, um aumento face ao relatório anterior publicado em 2020 (2,52 planetas no último relatório).

Apresentando o maior conjunto de dados trabalhados até aos dias de hoje, com quase 32.000 populações de 5.230 espécies em monitorização, o Índice Planeta Vivo (IPV), fornecido no relatório da Zoological Society of London (ZSL), mostra que é nas regiões tropicais que as populações de vertebrados monitorizados estão a cair a um ritmo alucinante. A WWF está extremamente preocupada com essa tendência, uma vez que várias dessas áreas geográficas são das mais biodiversas do mundo. Em particular, os dados do IPV revelam que, entre 1970 e 2018, as populações de animais selvagens monitoradas na região da América Latina e do Caraíbas caíram, em média, 94%.

Em menos de uma vida humana, as populações de água doce monitoradas caíram em média 83%, o maior declínio de qualquer grupo de espécies. A perda de habitat e as barreiras às rotas de migração (nomeadamente barragens e outras barreiras fluviais) são responsáveis ​​por cerca de metade das ameaças às espécies de peixes migratórios monitorizados.

Para Marco Lambertini, Diretor Geral da WWF Internacional, “Enfrentamos duas  emergências: as alterações climáticas provocadas pelos seres humanos e a perda de biodiversidade, que ameaçam o bem-estar das gerações atuais e futuras. Estamos deveras preocupados com estes novos dados, que mostram uma queda devastadora nas populações de animais selvagens, em particular nas regiões tropicais que são das paisagens mais biodiversas do mundo”.

Portugal tem uma relevante quota-parte de responsabilidade no declínio global das populações de tubarões e raias. A abundância destas espécies diminuiu 71% ao longo dos últimos 50 anos, sendo Portugal o 2.º país a nível mundial com maiores exportações conhecidas de carne de tubarão e o 6.º maior importador de carne de raia em termos de volume. Implementar medidas para a proteção dos tubarões e raias em Portugal teria, assim, o poder de impactar toda a rede comercial global no caminho de proteção destas espécies, o que justifica a criação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias.
“A vida selvagem continua a decair de forma alarmante, o que traz graves consequências para a nossa própria saúde e subsistência, e Portugal não está isento de responsabilidades. Apelamos ao Governo e empresas do nosso país para que não ignorem os sinais de urgência enviados pelo nosso planeta, pois é dele que toda a humanidade depende”, afirma Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANP|WWF, acrescentando que “as tendências atuais indicam que esta emergência dupla das alterações climáticas e da perda de biodiversidade pode ser invertida – mas precisamos de acelerar as mudanças transformacionais com políticas e ações assertivas. O declínio da biodiversidade sente-se também em Portugal e afeta-nos a todos”.

Em dezembro, os líderes mundiais vão reunir-se na 15.ª «Conferência das Partes (COP15) da Convenção sobre Diversidade Biológica e terão uma oportunidade única de reverter esta realidade, para o bem das pessoas e do planeta. A WWF defende que os líderes devem-se comprometer com um acordo “ao estilo de Paris”, capaz de reverter a perda de biodiversidade, para garantir um mundo positivo para a natureza até 2030.

“Na COP15, os líderes têm a oportunidade de redefinir a nossa relação com a natureza e garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos, assinando um acordo para a biodiversidade que seja global, ambicioso e positivo para a natureza”, disse Marco Lambertini. “Perante esta crescente crise da natureza, é essencial que este acordo garanta ações imediatas no terreno, inclusive por meio de uma transformação dos setores que impulsionam a perda da natureza e apoio financeiro aos países emergentes.”

A escalada de crises globais como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e o aumento da fome têm aumentado a urgência da transformação dos sistemas alimentares. A forma como produzimos os nossos alimentos está a colocar o nosso planeta em risco. Por isso, e em paralelo com o RPV, a WWF lança também hoje o “The Great Food Puzzle” onde são identificadas 20 alavancas para a transformação dos sistemas alimentares. Este é um ponto de partida para os governos tomarem medidas a nível nacional sobre a produção, consumo, perda e desperdício de alimentos. É urgente acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis através de políticas a nível nacional que sejam integradas com metas climáticas e de biodiversidade. A promoção da dieta sustentável é absolutamente essencial.

Os dados reforçam que os principais fatores do declínio da população da vida selvagem em todo o mundo são a degradação e perda de habitat, exploração, introdução de espécies invasoras, poluição, mudanças climáticas e doenças. Vários desses fatores desempenharam um papel na queda de 66% das populações de animais selvagens em África durante este período, bem como na queda geral de 55% na Ásia-Pacífico. No caminho de reversão deste declínio, garantir um futuro positivo para a natureza não será possível sem reconhecer e respeitar os direitos, governança e liderança de conservação dos povos indígenas e comunidades locais em todo o mundo.

O RELATÓRIO COMPLETO PODE SER LIDO AQUI
O SUMÁRIO EXECUTIVO PARA PORTUGAL PODE SER LIDO AQUI

Notas aos Editores:
  • O LPR 2022 é a 14ª edição da principal publicação bienal da WWF.*
  • O Índice de Planeta Vivo (IPV) global de 2022 mostra um declínio médio de 69% nas populações de animais vertebrados monitorizados. A mudança percentual no índice reflete a mudança proporcional média no tamanho da população animal rastreada ao longo de 48 anos - não o número de animais individuais perdidos, nem o número de populações perdidas.
  • Observe que as alterações sucessivas do IPV não são diretamente comparáveis, pois contêm diferentes conjuntos de espécies. Também é importante notar que a linha de base de 1970 tem significados diferentes para as várias regiões monitoradas. Na Europa e na América do Norte, as pressões afetaram espécies e habitats por muitas décadas antes de 1970, portanto, embora os declínios nessas regiões não sejam ostensivamente tão acentuados, isso não significa que a biodiversidade esteja mais intacta nessas regiões. De fato, o Índice de Impacto da Biodiversidade do relatório mostra que a Europa é uma das regiões com as pontuações mais baixas para a integridade da biodiversidade. Por outro lado, as regiões tropicais teriam começado em uma linha de base mais intacta em 1970, mas desde então experimentaram mudanças mais rápidas em seus ecossistemas.
  • O IPV é um indicador de alerta precoce sobre a saúde da natureza. A edição deste ano analisa quase 32.000 populações de espécies - com mais de 838 novas espécies e pouco mais de 11.000 novas populações adicionadas desde o lançamento do relatório anterior em 2020. Ele fornece a medida mais abrangente de como as espécies estão a responder às pressões no seu ambiente impulsionadas pela perda de biodiversidade e pelas alterações climáticas, permitindo também compreender o impacto das pessoas na biodiversidade.
  • A Décima Quinta Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP15) está programada para ocorrer em Montreal, Canadá, de 7 a 19 de dezembro, sob a Presidência da China.

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